Gerenciamento de Cores: a cor por trás da cor

A maioria das pessoas não costuma pensar em como as cores são formadas ou como elas se comportam. Mesmo em situações óbvias, como a ausência de cor em ambientes sem iluminação (figura 1), esses fatores são frequentemente ignorados, pois estamos acostumados com esses fenômenos desde o nascimento. Normalmente, apenas apreciamos e vivenciamos as cores sem perceber o que está por trás delas.

Figura 1 – A medida que a presença de cor é reduzida a nossa percepção de cor diminui.

Até mesmo profissionais que trabalham com cores são frequentemente influenciados por fenômenos físicos e químicos que afetam substancialmente seu trabalho de análise e comparação de cores, e muitas vezes não percebem esses detalhes.

Ao analisar e controlar a cor, é essencial ter um ambiente mais propício para essa atividade. Quanto menos variáveis, melhor será o resultado da análise. Por exemplo, a iluminação deve ser controlada, a mesma tinta deve ser utilizada sobre o mesmo substrato, entre outras variáveis. Os problemas aumentam quando é necessário comparar tintas de fabricantes diferentes, substratos diferentes, brilhos diferentes, entre outros.

Figura 2 – Informação espectral da cor.

Cada cor possui uma identidade única, e essa identidade é definida pela sua informação espectral, conforme pode ser vista na figura 2. Se duas cores tiverem exatamente a mesma informação espectral, podemos afirmar que elas são iguais. Quando as cores não possuem a mesma informação espectral e mesmo assim percebemos que elas são iguais, essas cores são consideradas um par metamérico (figura 3). Isso significa que, conforme o tipo de iluminante incidente sobre elas, perceberemos diferenças. Bem-vindo ao mundo do metamerismo!

Figura 3 – Par de cores metaméricas devido ao substrato conter branqueador óptico visualizado em uma cabine de luz controlada.

Figura 4 – O mesmo par de imagens da figura 4 agora visualizado sob a influencia de uma luz negra.

O metamerismo é um fenômeno diretamente relacionado ao “DNA da cor” e é normalmente causado por diferenças de substratos e pigmentos. A iluminação apenas revela o que esses dois agentes estão escondendo. Um componente importante que, ao ser adicionado a substratos e tintas, causa forte metamerismo é o branqueador óptico ou agente branqueador óptico, cuja sigla em inglês é OBA. É possível que você já tenha ouvido falar em alvejante óptico. Em nossas casas, normalmente usamos o alvejante para clarear roupas, o que nos dá a sensação de que aquela camisa branca ficou branquinha! Quando adicionado a tecidos, papéis e plásticos, o agente branqueador óptico faz com que a luz ultravioleta seja refletida na parte azul do espectro da cor e refletida aos nossos olhos. É importante salientar que não enxergamos a luz ultravioleta diretamente, mas sim a modificação que ela causa nas cores analisadas, trazendo uma sensação de brancura ou alvura.

No experimento apresentado nas figuras 3 e 4, é possível verificar duas imagens com cores metaméricas. Quando elas são comparadas sob uma luz padrão (figura 3), não há diferenças visuais. Na imagem seguinte, ambas as imagens foram iluminadas com uma luz negra, a mesma luz utilizada em festas onde os dentes e algumas peças de roupa brilham muito. A luz negra é capaz de refletir onde existe fluorescência, sendo neste caso, causado pelo branqueador óptico contido no substrato. A tinta é a mesma nos dois exemplos, mas o substrato é diferente. Observe que a curva espectral do papel mostra uma alta reflexão na área próxima à região ultravioleta, indicando a presença de OBA.

No dia a dia, não analisamos as cores sob uma lâmpada negra. No entanto, a maioria das lâmpadas que usamos possui componentes que emitem radiação UV em diferentes intensidades, assim como a luz do sol. Portanto, as cores que analisamos possuem a mesma influência de radiação UV, mas, é claro, com mais ou menos interferência do que mostrado no experimento. Quando comparamos dois substratos apenas com a medição em LAB de cada um, é mais difícil identificar se eles possuem o mesmo nível de OBA. Portanto, a melhor forma de detecção é analisar a curva espectral de cada um.

Na comparação de cores, é essencial detectar os agentes invisíveis que causam metamerismo para garantir condições mínimas de controle e antecipar a solução de problemas colorimétricos. A arte do controle de cor envolve muitas variáveis, e uma das mais importantes é a diferença da quantidade de branqueadores envolvidos no processo. Comece a perceber essa invisibilidade e terá um sucesso muito maior no julgamento de cores.

Evandro Mengue é Especialista em
Gerenciamento de Cores com 27 anos de
experiência no setor, G7 Expert e CEO da DeltaE Make a Difference.

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